quinta-feira, 30 de maio de 2019

Mãos


Hoje dei aula de Literatura e atualidades com minha amiga Bruna. Como a turma é pequena, ficamos sentadas na maior parte do tempo. Enquanto ela falava gesticulando, fiquei observando suas mãos. As unhas estão feitas, com uma cor forte, cor de inverno, como gosto de falar. A mão da Bruna é linda. E a maneira como ela organiza a fala através das mãos é incrível.

As minhas mãos são iguais às da minha mãe e da minha avó. Gosto delas. Gostaria de ter mais tempo para fazer as unhas, porque eu adoro estar com um esmaltão vermelho. A correria do dia a dia, tempo pra lixar, tirar cutícula, passar base, esperar secar e ter tempo hábil para não dormir com unha recém feita me impede de mantê-las como eu gostaria. Colocarei como meta neste final de semana deixá-las como gosto.

Gosto de ver as mãos da Dani, porque elas são pequenininhas e possuem pequenos pontos tatuados antes da cutícula. Acho um charme. Não sei o que significam, porque acho muito íntimo o significado das tatuagens e geralmente não pergunto. 

Os dedos da Elen são finos e delicados. Ela tá sempre com uma base. Tenho certeza que aquelas mãos recebem cuidados com cremes diários. 

A Amanda deixa as unhas bem curtinhas. Acho que rói. Fiquei observando hoje como ela embaralhava as cartas de tarot antes de abrir pra mim. A Julia estava com um vermelho já se indo, mas aquele charme de mulher que não precisa estar impecável, porque se garante em qualquer situação. 

Os homens têm menos cuidados. Exceto o Mateus, que está usando umas unhas grandes e pretas lindíssimas. O Moisés tem as unhas roídas e curtas. 

Meu namorado tem mãozinhas pequenas, com unhas curtas que acho lindas. São um pouco maiores que as minhas e adoro sentir nossas mãos encaixadas. 

As mãos do Fernando são pequenos pedacinhos de céu. Os dedinhos são roliços, sempre foram. Desde bebê gosto de ficar olhando para suas mãos. Agora ele inventou de roer as unhas, mas não são como as do Moisés. Elas parecem que foram cortadas. Insisto sempre que ele pare de roer, mas quando vou cortar já estão curtas. 

Essas foram todas as mãos que observei nas últimas semanas. Não sei qual será a reação das pessoas quando souberem que as tenho observado. Quero capturar na memória tudo o que conseguir. Quero fazer o meu registro, aquele que nada conseguirá apagar.

"O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente" (Drummond)


O porquê de um novo blog


A resposta é: quando escrevo, liberto-me. E, mais uma vez, preciso. Escrevo porque sinto e aqui eu extravaso.

Sou diabética tipo 1 há quatorze anos. Fui diagnosticada com retinopatia leve dia 15 de maio. Não estou cega. É muito cedo para dizer que eu fique. Porém, há possibilidade. O cuidado que eu não estava tendo ou a falta dele, está sendo revisto. Estou numa louca correria atrás de médicos, medicamentos e cuidado, MUITO CUIDADO, comigo mesma. Uma semana depois soube da neuropatia nas pernas também. Isso também me assusta muito. 

Não tem sido fácil. Depender de boa vontade de médicos é um horror. E não tenho tido boas experiências nesse check-up completo a que tenho me submetido por conta própria. Entretanto, as pessoas que me cercam estão sendo de uma generosidade e cuidado, que eu sempre soube que teria, mas que ao mesmo tempo tem transcendido, porque as pessoas têm sido incríveis.

A retinopatia tem me acompanhado mais, porque, dependendo do nível da minha glicose, eu sinto minha visão embaçada. Aplico insulina e logo se resolve. Mas esse leve desespero tem me apavorado muitas vezes. Por isso decidi escrever. Quero me libertar da angústia. 

A princípio, quero fazer um blog destinado a coisas que ainda quero ver, como o próprio nome já diz. Porém, se sentir necessidade de atualizar sobre minha saúde, colocarei títulos acompanhados de "[OFF]" para sinalizar.

Tudo o que mais quero ver ainda é meu filho Fernando crescer e se tornar o que ele quiser ser na vida. Isso que me importa. O "resto" são pequenas coisas do dia a dia que tô aprendendo a ver melhor, a valorizar mais. 

O que denominei agora de "restos" são, na verdade, pedaços de um mundo que me agarro e não quero largar.






O amanhã

Ao som de Samba de Bênção - Maria Bethânia Eu ainda quero ver o amanhã. Quero acordar e viver um novo dia. Ver velhas e novas pess...