terça-feira, 18 de junho de 2019

Fotos que me mandam do Fernando


Já faz algum tempo que eu aceitei o fato de que eu não sou dona do meu filho. Por muito tempo eu pensei que eu fosse. E ninguém me tirava da cabeça que ele era mais meu do que de qualquer outra pessoa. Ainda bem que essa fase acabou e hoje é só uma lembrança engraçadinha.

Há tempos crio o Fernando para que ele seja independente. Sim, nem oito anos ainda, mas independente. Não quer dizer que ele está pronto para morar sozinho, mas que tudo o que eu penso que uma criança de oito anos pode ou tem responsabilidade para fazer, eu deixo que ele faça e aproveite. 

E isso foi em cada fase de sua vida. Aprendi que criança tem tempo e horas úteis para qualquer situação. Tento respeitar isso ao máximo. Dividimos nossa vida em coisas só dele, coisas só minhas e coisas que conseguimos fazer juntos. E como é gostoso quando conseguimos respeitar o espaço do outro!

Se ele deseja algo, conversamos, vemos nós dois se isso é possível para nossas condições e vidas, analisamos e decidimos. A mesma coisa comigo. Sim, nós dois decidimos até mesmo a minha vida. Até o fato de eu começar a caminhar diariamente nós dois decidimos juntos. Falei da importância e necessidade, expliquei o tempo e o que isso afetaria nossa rotina. Tranquilo! Quando ele começou a usar óculos também estabelecemos juntos tempo para as atividades dele, reduzindo o uso do celular para não prejudicar a visão. Nem sempre as combinações são fáceis. Muitas vezes preciso repeti-las constantemente. Mas, no fim, esse é o nosso jeito de viver e tem sido muito bom.

Ano passado eu fui levar a Gabriela, minha amiga que convive com ele desde que ele mal falava, em casa. No caminho, ela riu e o convidou para dormir com ela. Ele disse que sim. Rimos todos. Parei o carro e ele desceu. Deixei. No outro dia o peguei. Essa foi a primeira vez que ele simplesmente escolheu dormir em outro lugar, sem que houvesse uma real necessidade de ele dormir lá. 

E assim ele começou, aos poucos, a escolher essas saídas. Às vezes me pede pra ficar na Gaby e na Raquel, na Gabriela Lobato (é muita Gabriela!), na vó e nas tias, no Santiago, na Bruna, na Fabíola... E assim ele vai. São momentos espaçados, mas eu gosto. Lembro que há três anos ele teve a primeira noite do pijama no colégio e não conseguiu ficar. Ligaram pouco depois da meia-noite eu voltei para pegá-lo. Ano passado ele mal se despediu de mim quando eu fui levá-lo de noite no colégio. Ficou super bem e até dormiu cedo.

Vejo tudo isso como aprendizado: ele é uma criança esperta, com vontades e eu confio muito nessa rede de amigos que ele gosta de frequentar. Acho importante tudo isso. Acho que é isso que significa criar um filho, né? A gente educa para que consiga construir sua própria história sendo o protagonista dela. 

E o que mais amo nessas saídas dele não são as quatorze horas de sono direto que me dou ao direito, mas as fotos, vídeos e áudios que recebo. Onde quer que ele esteja, sempre me envia sinal de fumaça pra dizer que está bem. 

Ainda quero ver muito essas fotos carinhosas que o Fernando e seus anfitriões sempre me mandam.

"Someone to face the day with, make it through all the mess with
Someone I always laugh with, even at my worst
I'm best with you"


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