Escutando Desconstrução - Tiago Iorc
Hoje foi um dia especial, marcado por três meses desde que eu soube da retinopatia. Fui ao Endocrinologista com resultado de exames da última semana e cheguei um pouco frustrada comigo mesma.
A minha rotina não favorece muitas coisas e fazer um caderno de anotações - com todas as medições de glicose, doses de dois tipos de insulina, quantidade de carboidratos por refeição, horário da atividade física, entre outros - literalmente não cabe. Eu tentei, depois acumulei um dia, dois; quando vi foram semanas. Dessa vez resolvi não procurar desculpas, como anteriormente. Passei a limpo os destros desta semana apenas e cheguei com uma folhinha na sala. Falei a verdade: sou incapaz de manter este caderno. Não bastasse isso, minha glicada (exame que mostra o desempenho trimestral da glicose no sangue) ficou acima do que eu havia me colocado como meta.
Em primeiro lugar, vamos conversar, Mariáh. Deixa eu te entender.
E então aquele homem me escutou. Falei da rotina, dos percalços, da correria, mas também dos cuidados, da mudança estratégica de vida que tive, de como a atividade física me faz bem, de como fico feliz em me sentir empoderada pela diabetes novamente.
Falamos sobre a nova insulina que comecei a usar há cinco dias e ele fez um pequeno manual de possibilidades que podem vir a acontecer comigo e como deverei agir em cada uma delas. Ele falou dos aplicativos existentes hoje que podem me ajudar na substituição do caderno e contagem de carboidratos. Tal qual meu primeiro médico, me deu materiais educativos como se fosse meu primeiro dia de DM1 e me pediu que relesse como se fosse mesmo a primeira vez. Pediu-me calma e que seguisse o que combinamos. Um dia de cada vez.
Diferente de outras vezes, agora com alguns nomes e sabendo o que buscar, encontrei os apps que são bem próximos das minhas necessidades, um de contagem de carboidratos e outro que registra todo o meu dia - refeições, doses, exercícios, destros - e depois posso imprimir as planilhas, gráficos, etc.
Eu não sei mais o que é não ser diabética. Nem lembro como é sentir sede sem ser porque a glicose está alta. A primeira coisa que faço depois que acordo é medir a glicose e também é essa uma das últimas antes de deitar. É como se eu precisasse saber o tempo todo se eu estou respirando.
Ainda estou aqui lutando e seguirei sempre. Jamais vou me neglicenciar novamente, apesar de ser extremamente cansativo. O descaso comigo mesma tem um preço que eu não cogito pagar.
Nem sempre é um texto motivacional. Às vezes, como hoje, é só um desabafo e necessidade de um abraço.
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