sábado, 1 de junho de 2019

Cinema

Escutando Sambando no escuro - Björk & Elza Soares (Bertazi Mashup)

O primeiro filme que vi na vida no cinema foi Jurassic Park. Minha mãe levou meu primo, uma colega minha e eu. Foi em Cruz Alta, em 1993. Lembro de uma fila gigante na frente do cinema e as pessoas todas muito ansiosas. A minha expectativa era gigante. Ao entrar na sala, tudo me encantava: a disposição das cadeiras, as cadeiras fixas ao chão, mas reclináveis de acordo com a posição que eu sentasse. A gente se olhava, sorria e dava pequenos risinhos. Quando o filme começou foi só encantamento. Meu primo e eu, que morávamos juntos, ficamos tão estarrecidos que nos apaixonamos por dinossauros e começamos a consumir tudo o que os publicitários inventaram com o tema: desde chocolates Nestlé, que vinham com figurinhas de papel que completavam um álbum, até revistas que eram vendidas semanalmente nas bancas e traziam um esqueleto do T-Rex por semana. O dia em que terminamos de montar o T-Rex foi sensacional. Ele brilhava no escuro. 

O segundo filme que vi na vida foi em Santa Maria, no ano seguinte: O Rei Leão. Nesse dia, minha mãe e minha tia deixaram que meus primos e eu ficássemos sozinhos pelo cinema. Havia muitos bancos sobrando então ficamos circulando até encontrarmos os mais diferentes possíveis para a história daquele passeio ficar ainda melhor (e conseguimos, pois cá estou). Pegamos lugares no segundo andar. Quando o filme começou já estávamos sentados nas nossas posições de donos do cinema, que era o que nos parecia. A primeira coisa que me chamou atenção foi a trilha sonora, que tomava conta da sala. Trilha que até hoje sei cantar. Aliás, os diálogos deste filme ainda estão na minha memória, o que me motiva ainda mais a ver o remake que será lançado daqui 48 dias (talvez eu esteja um pouco ansiosa) com áudio em português - além, é claro, do fato de eu assistir aos filmes somente dublados com o Fernando.

O terceiro filme que lembro agora, por conta desta situação em que me encontro, é o Dançando no escuro, musical com a Björk, que assisti sentada no chão do cinema no ano 2000, com 14 anos. Meu professor de História do Colégio Militar falou que estavam passando filmes "alternativos" (não lembro o termo que ele usou, mas foi com esse sentido) no shopping, de graça, aos sábados de manhã. O que me motivou a ir nessa sessão foi o discurso do professor, que eu considerava muito inteligente, e as aulas, que eram diferentes das tradicionais a que eu estava acostumada. A gente debatia, não era só conteúdo x ou y, mas relações disso tudo com a sociedade. Sem nenhuma cultura de frequentar projetos assim, simplesmente apareci com duas colegas no horário da sessão sem fazermos inscrição prévia. Ou seja, não tinha mais lugares. Uma boa alma nos disse para esperarmos sentarem e que depois nos acomodássemos como pudéssemos. E foi o que fizemos, sentamos no meio do corredor, no chão. E valeu cada mudada de posição, porque a perna ficava dormente. O filme foi o mais diferente de tudo o que eu já havia visto. Pela primeira vez, percebi certas coisas do cinema, como a câmera nervosa para mostrar a maneira como a personagem Selma via o mundo. Ou então como há muita injustiça social diante das nossas barbas e algumas simplesmente não conseguimos impedir. 

Ontem assisti ao filme da vida do Elton John: Rocketman. Gosto de biografias. Amo quando os homenageados estão vivos. Tendemos a valorizar as pessoas depois de mortas e é muito legal quando conseguimos fazer antes do fim. Fui de maneira super despretensiosa e saí abalada com a entidade que é este homem. Desconhecia boa parte de sua trajetória e agora sinto uma profunda admiração por ele. Hoje de manhã, numa formação de professores da rede municipal, uma colega lembrou a frase de Einstein que diz que época triste a nossa, em que é mais difícil quebrar um preconceito que um átomo. Pior ainda é quando o preconceito vem da própria família. Mas fico feliz que, não tendo esse apoio em casa, ele conseguiu construir a sua própria, com seu marido e filhos.

Fotografia é a verdade. Cinema é a verdade 24 vezes por segundo. - Godard.

Um comentário:

  1. Jurassic Park <3
    Björk <3 - e Dançando no Escuro - que filme. Por Gaia como eu chorei.

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